Segundo Luiza Mugnol Ugarte, o continente africano tem enfrentado ascendência no número de casos confirmados da COVID-19. Trinta países tinham casos confirmados no dia 19 de março, hoje todas as 54 nações do continente têm casos atestados, que ultrapassam 2.500 pessoas. Agora, o problema da pandemia junta-se a outros já enfrentados pelos países africanos, como a recuperação dos prejuízos sociais causados pelo surto de ebola, a quantidade de jovens vulneráveis pelo HIV – somente na África do Sul existem 2,5 milhões de pessoas não medicadas com antirretrovirais –, e o combate a quadros catastróficos de subnutrição em diversos lugares da África.
Mais adversidades serão enfrentadas. Uma delas é a Malária, que matou 405.000 africanos em 2019 e possui sintomas parecidos com os do coronavírus, o que dificulta o diagnóstico e execução de cuidados necessários com os infectados por SARS-CoV-2. Outra questão importante é que faltam equipamentos, unidades de terapia intensiva e médicos no débil sistema de saúde africano. Não há estrutura de saúde, nem de saneamento em muitas regiões do continente; 258 milhões de pessoas da África subsaariana não têm acesso à água tratada.
No continente, os maiores propagadores do vírus SARS-CoV-2 são os europeus, por isso, diversos países já fecharam suas fronteiras e isolaram pessoas advindas da Europa em quarentena. Países com alto número de casos incluem Argélia e Egito, e o primeiro caso foi reportado na Líbia. Mas é na África do Sul onde há maiores números de contaminação, onde soma-se um terço do total de confirmados. O governo do Quênia, onde ontem foi registrada a primeira morte oficial por COVID-19, anunciou o fechamento de escolas; já a África do Sul declarou confinamento a partir de hoje, 27 de março. O presidente do país declarou que se essas medidas não forem tomadas, uma catástrofe de grandes proporções pode acontecer.
A África não tem estrutura para enfrentar esta pandemia nas mínimas restrições recomendadas, já que grande parte da população não consegue seguir a rotina de confinamento devido ao trabalho informal, que não traz segurança nesse momento e resulta em grande exposição para aqueles que se apertam em transportes públicos. O confinamento se torna impossível e é somado às condições de saneamento, que para muitos estão longe de serem ideais.
Vale ressaltar que, como no Brasil, um grande desafio do continente é o combate às fake news, tendo em vista que parte da população pode não estar aderindo efetivamente às medidas mínimas de auto-higiene. Por isso, o papel da ciência neste momento segue mandatório, via cálculos epidemiológicos e via pesquisas, que são essenciais para o desenvolvimento de novos medicamentos e para evitar o grande número de mortes. Mais do que nunca, o trabalho conjunto de cientistas e as ações de autoridades governamentais mundiais faz-se imprescindível rumo à solução desta pandemia.